terça-feira, 9 de novembro de 2021

Ode tediosa



No cárcere em Trujillo Vallejo escreveu suas dores

não sabendo que em cem anos eu as sentiria.

No cárcere em Trujillo sentiu a passagem do tempo

entediado com as horas repetidas e vazias.

 

Tempo tempo tempo tempo.

 

Como fosse o dia de ontem: o lamento

do homem e do poeta desumanizados

no cárcere em Trujillo entre grades

porque todo cárcere é uma ode ao tédio

 

Era era era era.

 

Todo cárcere é uma ode a Lomismo

a coisa alguma acontecendo o tempo todo

ao som das horas escorrendo líquidas

entre os dedos entre os dentes entre as grades.

 

Nome nome nome nome.

 

No cárcere em Trujillo os galos cantam

como hoje cantam, como amanhã cantarão.

E uma angustia invade a tarde, um incômodo,

que não se dá nome, mas que se sente.

 

Tédio tédio tédio tédio.

 


Márcio B. Costa

(motivado pela leitura de Trilce II)

Crédito da imagem: Susano Correia, retrato da angustia.

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