Uma particular relação entre Vallejo e Rússia
‘La indígena morenez del estilo y el alma’: presencia de César Vallejo en Rusia, trabalho apresentado por Sebatián Moranta
O trabalho intitulado de ‘La indígena morenez del estilo y el alma’: presencia de César Vallejo en Rusia, foi apresentado no IV Congresso Internacional Vallejo Siempre, por Sebastián Moranta, da Universidade de Kassel, na Alemanha.
Ele se desenvolve a partir de uma leitura que tem como princípio básico compreender a relação de Vallejo com a Rússia e a cultura russa, tanto nos aspectos ideológicos quanto do interesse de Vallejo pelo marxismo.
A partir da fala de Moranto, durante a apresentação de sua comunicação científica, o comunicador trouxe várias informações pertinentes aos estudos de Vallejo, dentre as quais mencionarei quatro pontos que foram abordados por Moranto:
1 As três viagens de Cesar Vallejo para a União Soviética, corrido nos anos de 1928, 1929 e 1931;
2 As expectativas frustradas de Vallejo para uma nova viagem à Rússia, no ano de 1933, e a singular correspondência feita com o hispanista Fyodor Kjelling, conservada, atualmente, no Arquivo Estatal Russo;
3 Duas obras de Vallejo sobre a União Soviética: Rússia 1931: reflexões para o pé do Kremlin (1931) e Rússia antes do segundo pano quinquenal (1965);
4 Tradução das duas principais obras de Vallejo: Los heraldos negros e Trilce. Poemas humanos;
Dos pontos mencionados, Moranto destaca que, das três viagens feitas por Vallejo, a primeira viagem não foi o que o poeta esperava, pois seu entusiasmo se esbarrou numa realidade dura, apesar dos contatos feitos, inicialmente, não foi frutífera para a publicação de suas obras. A segunda viagem foi mais significativa, embora não tenha atingido o objetivo de entrar no rol de traduções para suas obras, pode manter contato com vários intelectuais russos, incluindo Vladmir Maiakovsky, com quem pode assistir o filme A linha geral (O velho e o novo), de Sergei Eisenstein. Esse filme contribuiu efetivamente na escrita do livro Rússia 1931: reflexões aos pés do Kremlin, obra esta que em seu conteúdo destacava as inovações do cinema para divulgar mensagens revolucionárias e marxistas. Ainda durante a segunda viagem, Vallejo conhece Boris A. Pesis, secretário de VOLKS, entidade de intercâmbio entre intelectuais russos com intelectuais europeus e americanos. Participou, também, de uma reunião com escritores bolcheviques, na casa do poeta e narrador Serguéi Kolbásiev, em Leningrado. Todos estes acontecimentos, possibilitou a Vallejo manter contato com um grande número de intelectuais russos.
Entretanto, foi na terceira viagem que Vallejo que consegue a promessa de ter seu livro El tungsteno publicado em russo, em 1932 e, em 1933, em ucraniano, efetivando, assim, seu desejo e interesse em entrar no campo das traduções. O ponto negativo dessa tradução é que Vallejo, conforme menciona Morana em seu discurso, parece não ter conseguido receber pelas vendas de sua obra traduzida.
Morana, em seu dircurso, traz outras informações importantes, dentre elas o fato de que Vallejo não conseguiu permanecer muito tempo na URSS, mas se propôs a contribuir com as publicações soviéticas desde que recebesse honorários. Destaca que Vallejo se considerava um marxista, mais pelas suas experiências adquiridas pelo tempo vivido na URSS do que pelas ideias estudas. Sobre esse período, mas especificamente em 1928, ao saber da criação do Partido Socialista Peruano, Vallejo redigiu um documento para criar uma célula do partido em Paris, declarando abertamente sua ruptura com os apristas do Peru. Nesta mesma época passa a se corresponder com a sociedade intelectual da URSS.
Durante muito tempo Vallejo tentou voltar uma quarta vez para URSS, mas devido o silêncio e as dificuldades em conseguir os documentos necessários para emitir as passagens e outros documentos, acabou frustrando-se, mesmo solicitando e insistindo repetidas vezes uma resposta do grupo de intelectuais, os VOLKS. Victória Popova, em seu artigo Ninguém escreve para o escritor, fica evidenciado o silêncio de VOLKS em relação as cartas que Vallejo escrevera.
Moranta, destaca que a obra Rússia 1931: reflexões aos pés do Kremlin foi tido como uma espécie de best seller em Madri, pois em menos de 4 meses foram publicadas três edições sucessivas. Nesta obra, Vallejo deixou evidente a sua apologia as bondades da aplicação do marxismo, conforme percebera nas suas duas primeiras viagens a URSS. Quanto ao segundo livro, possui a mesma temática do primeiro, por isso só foi publicado em 1965.
Moranta destaca que a presença de Vallejo na Rússia resultou na publicação das obras Los heraldos negros, Trilce e Poemas humanos, resultando em uma obra com cerca de 800 páginas. Tal publicação foi coordenada por Víktor Andréyev e Kiril Korkononósenko, que reuniu o trabalho de 23 tradutores. Outras obras foram publicadas em russo, é o caso da obra Obras Escolhidas (1984) e Poetas do Peru (1982).
Desse modo, a partir do que foi exposto durante o discurso da comunicação feita por Sebastián Moranta (Universität Kassel, Alemania), que Vallejo é transnacional, não pode ser pensado localmente, é preciso pensa-lo como um poeta-escritor que ultrapassou fronteiras.
Obs.: Abaixo, transcrevo o resumo aceito para a participação de Moranta no IV Congresso Internacional Vallejo Siempre:
La conexión de Vallejo con Rusia nos lleva a ocuparnos de su creciente interés por el marxismo a partir de la segunda mitad de los años veinte, y de los tres viajes que realizó a la URSS (en 1928, 1929 y 1931), cuyas impresiones reunió en los libros de reportajes y crónicas Rusia en 1931. Reflexiones al pie del Kremlin y Rusia ante el segundo plan quinquenal. Aquí nos hemos propuesto combinar estos hitos de la biobibliografía vallejiana con un repaso a lo más significativo de las traducciones de su obra al ruso. Fruto de los contactos que Vallejo logró establecer entonces, en particular con el hispanista F. V. Kel’in, su novela proletaria El tungsteno sería publicada poco después en ruso (1932) y en ucraniano (1933). La presencia editorial de Vallejo en Rusia culmina en el volumen Los heraldos negros. Trilce. Poemas humanos [Чёрные герольды. Трильсе. Человечьи стихи] (2016), un ambicioso proyecto y acontecimiento editorial (casi 800 páginas) coordinado por los filólogos hispanistas de San Petersburgo Víktor Andréyev y Kiril Korkonósenko, y que reúne la labor de 23 traductores.
Referência do vídeo sobre a comunicação feita por Moranta:
IV Congreso Internacional Vallejo Siempre - Sebastián Moranta. MORANTA, Sebastián. ‘La indígena morenez del estilo y el alma': presencia de César Vallejo en Rusia. Publicado em: 29 set. 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=32KPQjLO4Ls. Acesso em: 30 set. 2021.
Obs.: Para quem quiser conhecer um pouco da primeira obra de Vallejo publicado na Rússia: clique -> El Tungsteno
Adel M. H.
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